Vai de retro, Sogra.
Não.
Nem pensar.
Fora de questão.
Tocou o telefone de casa, ainda agora. Domingo de Páscoa, já no finalzinho, o jantar ao lume, as moças nos banhos.
O Coiso ao meu lado no sofá, agarra e atende.
Silencio, que é a minha Sogra. A senhora dona Sogra, lembrou-se de ligar, a desejar as boas Páscoas- pensei eu, enganada.
Entre dentes, o Coiso diz-me baixinho: "anda há uns dias a pedir-me se pode cá vir passar uns tempos... tenho-me esquecido de te dizer"
De olhos esbugalhados e de forma bem sonora rebento um "Não!!" sem sequer querer saber se a senhora ouviu ou não. Assim de repente, senti as amêndoas da Páscoa aos saltos na barriga e até me arrependi de não ter experimentado um copinho de Gin Tónico entretanto.
Como a conversa não se descosia dali, o marido estava com alguma dificuldade em fazer entender que "agora não é uma boa altura para vires" e como a frase "a Coisa anda em tratamentos e não convêm ter mais trabalho, precisa é de descanso" não chegava a passar para o outro lado da linha, eu só vi uma única opção.
Levantei-me, passei por detrás do sofá e desliguei o cabo do telefone, directamente da parede.
Ups. Foi sem querer.
(Ela não voltou a ligar. Nós também não.)