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à nora com a sogra

Um blog sobre histórias de família em geral e mães de maridos em particular. Ou um registo terapêutico de episódios reais que mais parecem ficção.

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Eu sou uma fingida, sabiam?

Eu gostava muito de fazer um post só com coisas cor-de-rosa e bonitas da minha Sogra. Falando da relação dela connosco, claro está. Mas dei aqui voltas e voltas e não me consigo assim lembrar de nada. Nada mesmo. E isso faz-me muita confusão. Eu não sou pessoa de guardar nem ressentimentos nem más recordações. Mesmo as atitudes menos simpáticas que alguma vez na vida me foram dirigidas, olho para elas com alguma dose de contentamento por as ter superado e apenas o sentimento de que alguma coisa de bom aprendi com isso. São apenas memórias, não são raivas ou tristezas.

 

Isto leva-me a tocar aqui um ponto interessante: superar o mau feitio e aprender com isso.

Que a fera não nutre grande carinho por mim já todos nós sabemos. Que tanto lhe faz que eu seja azul ou amarelo, também. Mas há coisas que a senhora podia baixar a guarda, tal como a condição humana nos ensina e nos leva a colocar de lado determinados sentimentos para ajudar o próximo. Como eu fiz, algures em 1999, com uma bebé pequena e gravidíssima da segunda e muito pouco fã da Sogra. Foi por esta altura do ano, recordo-me de ser uma noite muito chuvosa e de receber o telefonema do hospital a informar que a Senhora estava internada com um episódio de tensão arterial perigosamente elevado e que precisava que alguém lá fosse para dar os dados (ela não estava lúcida) e mais tarde levá-la para casa.

3 Filhos. Nenhum quis ir. Ninguém quis fazer o frete nem depois ter a responsabilidade de cuidar dela. "O marido que o faça" foram as respostas das filhas. "Ela sabe que não pode abusar e abusa [do sal/comida]", a justificação.   

Fui eu. E fiz o que seria suposto uma filha fazer. E acarinhei, dei banho, fiz comida, deixei a casa organizada, preparei o almoço para o sogro levar para o trabalho no dia seguinte. E quando se recompôs, fingi que ouvi um "obrigada" na minha cabeça, já que da boca dela, foi mais um "usaste os tupperwares que são difíceis de abrir". E segui com a minha vida, que eu não faço anda à espera de olhar para o retorno.

 

Em 2007 tive um AVC. Não importou nada que a única família perto fosse a Sogra, não ouvi dela um ai. Minto. Ouvi um raspanete: porque é que tinha ido deixar a bebé na creche (a terceira tinha meses) se não me sentia bem? O perigo! Podia ter morto a menina num acidente de carro! Sim, que eu sabia que aquela enxaqueca ia virar AVC. Eu adivinhava que aquela enxaqueca igual às dezenas de outras que costumava ter, ia mandar-me ao chão, no segundo a seguir a deixar a menina nos braços da auxiliar da creche.

Enfim, nos 3 meses seguintes, o Coiso ouviu dizer que eu estava a fingir. A fingir a lentidão de movimentos, a falta de acuidade na fala e visão e inclusive a falta de destreza e mobilidade. Eu era uma preguiçosa e uma fingida. E coitadinho do filhinho que tinha o trabalho todo em cima dele. Fora de questão ela ir lá a casa ajudar, que não se ajudam preguiçosas.

A vida continuou, eu saí mais forte desta história toda e nem quando a vida resolveu deitar-me abaixo de novo, quis cá saber de maus feitios.

Este Verão, num jantar atribulado e muito pouco normal (fica para outro post, prometo!), o Coiso decidiu dizer-lhe (justificando algo) que eu estava a passar um mau bocado porque me foi diagnosticada uma doença que -neste momento - é ainda incurável e é incapacitante. Foi matemático. Certinho como tudo: "e tens a certeza? Mas foste com ela ao médico ou ela está a fingir e a mentir-te para teres pena dela? Tens a certeza que isso não é só desculpas para fazer só o que quer?"

A resposta do Coiso não é concordante com a moral e bons costumes que pautam este nosso blog, logo, não a posso reproduzir. A minha foi bem mais doce.

- D.Sogra,  desejo do fundo do coração que mantenha a sua saúde sempre boa e que nunca tenha que deitar uma lágrima de preocupação sobre ela. Que possa viver sempre com essa sua má-língua e veneno certeiro em boa saúde e continue a atazanar a vida de muita gente por muitos e bons anos. Já eu, quero mais é viver os aninhos que me restam com muita paz e sossego, por isso, desejo-lhe o melhor de sempre, bem longe de mim.

Só tenho pena de uma coisa: ter-me vindo embora sem comer a sobremesa. Estava mesmo fisgada para me deliciar com um pudim de claras e doce de ovos que lá havia no restaurante!  

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