Se há coisa que me faz confusão é não se pensar no futuro.
Sim, já sei, blá blá blá que o presente é que é para se viver e não se perder pitada e tal e tal.
Oh bolas, mas isto de se ter filhos é coisa importante e há que pensar no futuro, sim senhora! E mesmo que não se tenham filhos… nós! Nós também somos importantes e merecemos viver tranquilos e com uma almofada (zinha, por vezes), para quando se cai. Por isso, sempre que se pode, coloca-se uns trocos de parte. Verdade? É que às vezes o futuro acontece sem se estar à espera e estar minimamente preparado é a diferença entre o pânico e a tranquilidade.
Sim, sou muito utópica. Sim, eu sei que nem sempre sobra para poupar. Mas daí a se ser louco… vai uma grande distância.
Querem ver?
Com certeza lembram-se de ter deixado ventilar aquele comentário do telefonema da Sogra, sim? Pois bem, isto se fosse uma novela mexicana, tinha imensa piada. Mas não é. É a realidade, ao vivo e a cores – sabe Deus se cores suaves ou excêntricas.
O primeiro telefonema veio no final de Março, já lá iam uns largos meses que não dava sinal de vida. Claro que atendido por uma das netas não tem piada e a pergunta é disparada sem perdão “o pai está em casa?”
- Não avó, estamos só nós e a mãe.
“ Ele que me ligue depressa está bem?”
E desliga. Assim. Sem mais. Não interessa nada que a miúda fosse parente e até quisesse dar notícias. (Principalmente porque nunca atende o telefone quando estas lhe ligam).
Detalhes do dia à parte, o Coiso lá lhe ligou depois do jantar, ali sentadito ao meu lado do sofá e eu nem queria acreditar no que os meus ouvidos escutavam. Precisava de um “empréstimo” pequenino, 250 Euros, porque tinha a conta de blá blá blá mais a outra que estava já com os serviços cortados e a cereja no topo do bolo: para as despesas de farmácia mensais. Quem me lê assim, fica com pena da senhora D. Sogra e até torce para que tenhamos enviado dinheiro, não é? Afinal, a senhora precisa dos seus medicamentos!
Pois. Mas só que não. A Senhora Dona Sogra ganha 3100 Euros limpinhos de reforma. E tem língua afiada para se valer do seu topo de carreira e de “só” ganhar isto porque resolveu reformar-se antes do tempo, perdendo alguns anos de serviço.
Não é quanto ganhas é o que fazes com ele, já diria o meu marido. Desta vez as queixinhas e o choradinho não deram em nada por motivos que não interessam nada. Assim que se apercebeu que o filho desta vez não ia abrir os cordoes à bolsa, despachou-o, friamente. “É para o lado que durmo melhor”, disse-me ele despreocupadamente. Já eu, fico preocupada… Não consigo evitar.
Enfim, adiante.
Para grande surpresa minha (que eu continuo a acreditar em Unicórnios e fadas e afins), a senhora Sogra resolve ligar 2 semanas mais tarde. A estranheza instalou-se logo mas o Coiso atendeu o telemóvel.
Olhem, não sei se me caiu o queixo, se me baralharam os neurónios, se o que é que me deu. Quando o meu marido começa a falar e a fazer os seus comentários e opiniões e eu a ouvir ela do outro lado da linha a dizer já em tom de ameaça que “o dinheiro é meu e eu faco o que bem me entender”, eu já estava num misto de não quero saber; não quero me meter e oh! Ceus! O que foi agora.
Eu devo ser uma querida, porque a Senhora Sogra ainda teve tempo para dizer que eu iria afiançar que tinha sido uma boa oportunidade. Desculpe, como é que é?
E outra vez… vamos lá… Pois. Só que NÃO!!
Não é que a senhora Sogra resolveu comprar um terreno, porque precisa para colocar a caravana [outra das compras doidas da sogra] e nunca se sabe se um dia pode valer muito e assim?!?
Opaa, sinceramente… ora telefona porque não tem dinheiro para a medicação e resolve pedir [mais um] empréstimo ao banco para comprar um terreno? Isto é tudo menos normal. O Coiso bem barafustou que ela devia era ter juízo e viver descansada na casa que tem, com piscina e tudo. Mas ela diz que precisava deste terreno, no meio da Serra Algarvia, assim… quase inacessível. Muito bom para fazer picnics, diz ela.
E melhor?!? Melhor, melhor foi o marido dela não concordar com a compra do terreno precisamente porque tem noção que ela gasta e gasta e gasta até ao último tostão e que a vida não está fácil para eles. Melhor foi ela dizer que o expulsava de casa se ele não aceitasse comprar o terreno. E ainda melhor foi ela decidir que se divorciava [outra vez, deste pobre desgraçado] e enquanto não tivesse o apoio dele, não lhe dirigia palavra.
Oh senhores. Mas que paciência. Não, não sei que pecado é que ele está a pagar. Mas deve ser penoso.
E comprou o terreno, fez escritura, fez tratamento de silêncio ao pobre do homem, fez dele motorista para o vai e volta destas situações todas e no final? No finalzinho?
Não conseguem levar a caravana para o terreno. A inclinação do acesso e o facto de ser terra batida com muitas irregularidades e pedras, não permite que a caravana vá para o terreno.
Tocou o telefone de casa, ainda agora. Domingo de Páscoa, já no finalzinho, o jantar ao lume, as moças nos banhos.
O Coiso ao meu lado no sofá, agarra e atende.
Silencio, que é a minha Sogra. A senhora dona Sogra, lembrou-se de ligar, a desejar as boas Páscoas- pensei eu, enganada.
Entre dentes, o Coiso diz-me baixinho: "anda há uns dias a pedir-me se pode cá vir passar uns tempos... tenho-me esquecido de te dizer"
De olhos esbugalhados e de forma bem sonora rebento um "Não!!" sem sequer querer saber se a senhora ouviu ou não. Assim de repente, senti as amêndoas da Páscoa aos saltos na barriga e até me arrependi de não ter experimentado um copinho de Gin Tónico entretanto.
Como a conversa não se descosia dali, o marido estava com alguma dificuldade em fazer entender que "agora não é uma boa altura para vires" e como a frase "a Coisa anda em tratamentos e não convêm ter mais trabalho, precisa é de descanso" não chegava a passar para o outro lado da linha, eu só vi uma única opção.
Levantei-me, passei por detrás do sofá e desliguei o cabo do telefone, directamente da parede.
Vamos ser honestas. De vez em quando, a coisa ferve de tal forma cá dentro que nos dá mesmo é vontade de responder – torto, sinuoso, ríspido e curto.
Vamos ser ainda mais honestas. Nessas mesmas vezes a reposta certa, perfeita, ideal surge-nos na mente… uma hora depois de tudo se passar. E remoemos, remoemos e ficamos zangadas connosco próprias por não termos respondido logo no momento.
Eu aposto que se alguém se desse ao trabalho, escavasse bem nas civilizações antigas e desde os desenhos das cavernas aos hieróglifos egípcios, iriam encontrar representações, desabafos e outros queixumes de Noras frustradas e Sogras abelhudas. Inevitável fugir a essa realidade.
A questão passa sempre por haver dificuldade entre um triângulo que não sendo bem um triângulo amoroso, quando não gerido da melhor forma coloca em causa o lado amoroso da questão. Ou por outras palavras, como medir dois pesos de uma balança… responder a uma Sogra azeda sem prejudicar a relação com o marido.
Tarefa Hercúlea… e tivesse sido uma Herculana em vez de um Hercules, garanto-vos que não seriam os 12 trabalhos de Hercules, seriam 13 – “Sobreviver à ira de uma Sogra”.
Saber medir uma resposta entre o aceitável e o eficaz não e simples mas e concretizável.
Deixo-vos umas dicas.
- Educação -
Por mais que nos tentem, uma resposta educada, pausada e em tom de voz baixo mas assertivo coloca-nos no patamar de cima. Até conseguimos dizer as coisas de forma mais real e tudo. Ora vejam:
Sogra – “Olha la, não achas que o meu filho já merecia uma casa mais arrumada?”
Nora – “Tem toda a razão! Podia pedir-lhe para ele não a desarrumar tanto, sff? E se conseguir que ele ouça, pode pedir-lhe também que coloque a loiça suja na maquina? Muito obrigada.” – Terminar com um obrigada, sorriso armado e olhinhos de borboleta a piscar - parece que faz um efeito de confusão nas Sogras, pelo que deve ajudar.
- Aceitar a ajuda com entusiasmo -
Ou deixar a Sogra achar que está a ganhar terreno sem o estar.
Sogra – “Se quiseres, posso vir cá dar uma ajuda com a roupa, parece que não tens tempo.”
Nora – “oh! Isso era fantástico da sua parte. O seu filho gosta das cuecas passadas do avesso, depois passadas na parte exterior e depois dobradas de forma que fique tipo quadrado simétrico e arrumado nas gavetas por ordem de cor, com desenho, sem desenho e tecido. As de cetim normalmente prefere com vincos mas as boxers de algodão não podem ter vincos. Com as camisolas, o processo deverá ser semelhante mas não gosta que se note o vinco a meio do peito por isso convém dobrar com um esquadro mas sem deixar que o vinco passe por baixo da linha do peito. Quer que vá já buscar o ferro?”
- A comidinha preferida do filho -
Só a Sogra é que sabe fazer aquela comidinha fantástica.
Sogra – “O meu filho gosta é do meu arroz. E da minha sopa!”
Nora – “Verdade! Por isso é que não entendo como engordou tanto desde que casou. Ele nem come quase nada da minha comida!”
- Os Netos -
Que Sogra não pega com a história de que ela é que sabe como melhor educar os NOSSOS filhos? E sempre com a resposta típica de que já educaram um (ou mais) e sabem bem o que a casa gasta. Resposta para isso? Olhinhos de borboleta, sorriso gigante e a tal voz calma e educada:
Nora – “ Gostaria muito que o meu filho fosse melhor Homem que o meu marido” ou “A minha filha saberá sempre como reconhecer melhores atitudes que a que o Pai foi ensinado. Uma mulher bem-educada vale por dois Homens!”
E para as Sogras como a minha, hiper religiosas (para o que lhes interessa), nada como usar sempre o mesmo chavão:
Nora – “ Então mas a Bíblia não diz no Livro de Genesis 2:24 que "o homem deixará seu pai e mãe e se unira à sua mulher." Jesus repete esta ordem em Mateus 19: 4-6 e Marcos 10: 6-8. Neste contexto, a palavra "unir-se" refere-se ao estabelecimento de uma união "uma só carne" entre marido e mulher. Isso significa que quando um casal se casa, eles deveriam fundar uma nova unidade familiar, distinta e separada das suas famílias de origem, ou seja, ninguém deve meter a colher.”
Isto claro… com olhinhos de borboleta, sorriso gigante e a tal voz calma e educada.
Hoje resolvi partilhar convosco umas respostas diplomáticas, educadas mas muito convenientes. Se servir para alguma coisa, que seja para vos dar um belo sorriso - mesmo que mental - quando vêem/ouvem a Vossa Sogra.
Ora aqui vão uns pontinhos:
A Sogra diz: Olha lá, esta casa parece um pardieiro. Há tralha por todo o lado. Não tens vergonha??
- Vergonha não tenho. Mas tenho muita paciência em dar ao meu marido um lar aproximado ao que sempre teve.
A Sogra diz: O meu filhinho gosta é da comidinha da mãe. Ninguém faz empadão de atum como o meu.
- Ah, está explicado! Agora percebo porque o marido me diz que odeia atum.
A Sogra diz: Tanta roupa por passar! Vê lá... se quiseres, posso cá vir passar a ferro.
- Obrigada mas o meu marido gosta da roupa muito bem passada.
A Sogra diz: A criancinha está muito magrinha, não tratas bem da alimentação dela!
- É suposto alimentá-la? Oh, pensava que crescia por fotossíntese.
A Sogra diz: No meu tempo, a mulher não andava cá atrás do homem para ele ajudar nas tarefas da casa ao fim de semana, eles iam à sua vida! Isto agora, as mulheres são umas preguiçosas.
- No seu tempo havia dois tipos de mulheres, não era? As que limpavam a casa sem piar e as que recebiam os maridos das outras. Ainda bem que já não estamos no seu tempo!
A Sogra diz: E qual é o problema de dar um bolinho à criança agora? Até parece que fiz alguma coisa de mal.
- Não tem problema nenhum em dar um bolo antes da refeição. Aliás, é uma excelente ideia para quando formos almoçar a sua casa. Assim, já vai de barriga aconchegada e não precisa comer a sua... "comida".
A Sogra diz: Quando o meu filhinho era pequenino eu não o deixava cá preocupar-se com arrumar as coisas. A criança precisa é de brincar!
- Está a ver porque é que está tudo espalhado? Porque o seu filho continua a gostar de ver a casa assim, desde pequenino.
E para finalizar, a célebre frase da Sogra que parece estar em constante TPM, sempre dita aos outros: Pois! A mulher do meu filho esquece-se que ele tem mãe, não o deixa vir visitar-me!
- É verdade. Sempre que ele fica amnésico e decide ir vê-la eu vou imediatamente buscar a corda, amarro-o à mesa da cozinha, amarro as mãos uma à outra e preparo o chicote, caso queira se mexer dali. Educou-o muito bem, sabia? É muito obediente e faz tudo, tudo, o que lhe ordeno.
Sempre com muita educação, tom calmo e compassado e, o mais importante: um sorriso na cara. Ironia? Não. Sobrevivência.
Eu gostava muito de fazer um post só com coisas cor-de-rosa e bonitas da minha Sogra. Falando da relação dela connosco, claro está. Mas dei aqui voltas e voltas e não me consigo assim lembrar de nada. Nada mesmo. E isso faz-me muita confusão. Eu não sou pessoa de guardar nem ressentimentos nem más recordações. Mesmo as atitudes menos simpáticas que alguma vez na vida me foram dirigidas, olho para elas com alguma dose de contentamento por as ter superado e apenas o sentimento de que alguma coisa de bom aprendi com isso. São apenas memórias, não são raivas ou tristezas.
Isto leva-me a tocar aqui um ponto interessante: superar o mau feitio e aprender com isso.
Que a fera não nutre grande carinho por mim já todos nós sabemos. Que tanto lhe faz que eu seja azul ou amarelo, também. Mas há coisas que a senhora podia baixar a guarda, tal como a condição humana nos ensina e nos leva a colocar de lado determinados sentimentos para ajudar o próximo. Como eu fiz, algures em 1999, com uma bebé pequena e gravidíssima da segunda e muito pouco fã da Sogra. Foi por esta altura do ano, recordo-me de ser uma noite muito chuvosa e de receber o telefonema do hospital a informar que a Senhora estava internada com um episódio de tensão arterial perigosamente elevado e que precisava que alguém lá fosse para dar os dados (ela não estava lúcida) e mais tarde levá-la para casa.
3 Filhos. Nenhum quis ir. Ninguém quis fazer o frete nem depois ter a responsabilidade de cuidar dela. "O marido que o faça" foram as respostas das filhas. "Ela sabe que não pode abusar e abusa [do sal/comida]", a justificação.
Fui eu. E fiz o que seria suposto uma filha fazer. E acarinhei, dei banho, fiz comida, deixei a casa organizada, preparei o almoço para o sogro levar para o trabalho no dia seguinte. E quando se recompôs, fingi que ouvi um "obrigada" na minha cabeça, já que da boca dela, foi mais um "usaste os tupperwares que são difíceis de abrir". E segui com a minha vida, que eu não faço anda à espera de olhar para o retorno.
Em 2007 tive um AVC. Não importou nada que a única família perto fosse a Sogra, não ouvi dela um ai. Minto. Ouvi um raspanete: porque é que tinha ido deixar a bebé na creche (a terceira tinha meses) se não me sentia bem? O perigo! Podia ter morto a menina num acidente de carro! Sim, que eu sabia que aquela enxaqueca ia virar AVC. Eu adivinhava que aquela enxaqueca igual às dezenas de outras que costumava ter, ia mandar-me ao chão, no segundo a seguir a deixar a menina nos braços da auxiliar da creche.
Enfim, nos 3 meses seguintes, o Coiso ouviu dizer que eu estava a fingir. A fingir a lentidão de movimentos, a falta de acuidade na fala e visão e inclusive a falta de destreza e mobilidade. Eu era uma preguiçosa e uma fingida. E coitadinho do filhinho que tinha o trabalho todo em cima dele. Fora de questão ela ir lá a casa ajudar, que não se ajudam preguiçosas.
A vida continuou, eu saí mais forte desta história toda e nem quando a vida resolveu deitar-me abaixo de novo, quis cá saber de maus feitios.
Este Verão, num jantar atribulado e muito pouco normal (fica para outro post, prometo!), o Coiso decidiu dizer-lhe (justificando algo) que eu estava a passar um mau bocado porque me foi diagnosticada uma doença que -neste momento - é ainda incurável e é incapacitante. Foi matemático. Certinho como tudo: "e tens a certeza? Mas foste com ela ao médico ou ela está a fingir e a mentir-te para teres pena dela? Tens a certeza que isso não é só desculpas para fazer só o que quer?"
A resposta do Coiso não é concordante com a moral e bons costumes que pautam este nosso blog, logo, não a posso reproduzir. A minha foi bem mais doce.
- D.Sogra, desejo do fundo do coração que mantenha a sua saúde sempre boa e que nunca tenha que deitar uma lágrima de preocupação sobre ela. Que possa viver sempre com essa sua má-língua e veneno certeiro em boa saúde e continue a atazanar a vida de muita gente por muitos e bons anos. Já eu, quero mais é viver os aninhos que me restam com muita paz e sossego, por isso, desejo-lhe o melhor de sempre, bem longe de mim.
Só tenho pena de uma coisa: ter-me vindo embora sem comer a sobremesa. Estava mesmo fisgada para me deliciar com um pudim de claras e doce de ovos que lá havia no restaurante!
[Obrigada pelas mensagens, pelo apoio, pelo carinho - virtual ou não, chega cá, arrepia na pele e faz derreter o coração]
Já não íamos a Portugal ía para 2 anos. Fui com as moças, um mês inteirinho, tantos dias quantos os que havia de férias escolares (aqui é mesmo só o Agosto, a escola começa no primeiro dia útil de Setembro). O Coiso ficou por cá mais uns dias e só se juntou a nós nos últimos 12 dias.
Planos para ver a Sogra eram nenhuns, principalmente enquanto o Coiso não estivesse conosco. Não sei quem lhe disse o dia e a hora, não faço ideia quantos olhos de dragão, quantas osgas e asas de morcego a senhora conseguiu colocar no seu caldeirão. O facto é que alguém se descaíu no feitiço e ela soube a que horas estar à nossa espera no aeroporto de Lisboa.
Saímos da porta, descemos a rampa, vi o mundaréu de amigos mais chegados ali com os sorrisos abertos e olhos vidrados pela saudade, meus e das moças e lá bem no meio, como que liderando o bando, a dita cuja.
Dita cuja que, no meu dicionário - naquele momento, seria qualquer coisa como "a bruxa vestida de negro e olhos assustadores, com aquele chapéu à anos 20 absurdo (eram 23 horas) e sapatos ponteagudos". Léxico definido, adiante.
- Oh Coisa, pah! Há tanto tempo! Onde está o meu filho?!? [Não, não estou a narrar no anonimato. Ela chamou-me mesmo coisa. 25 anos depois, eu ainda sou Coisa]
Deve-se ter esquecido de colocar rabos de lagarto na poção que o feitiço não ficou lá muito bom e quem se descaíu se esqueceu de lhe dizer o pormenor de que o filho ía mais tarde.
Trazia prendas para as 3 netas e para mim.
Para a mais velha, cujo nome começou por dizer "a minha netinha mais velha, que se chama como a minha querida falecida mãe, ah ... anda cá", boa memória, portanto, [não me venham com coisas que a senhora até sabe os 21 dígitos do seu NIB de cor] trouxe uma pasta do Noddy. Não é que a miúda tenha 16 anos, nem nada. Para a do meio (bem, "minha netinha do meio" é fácil dizer), trouxe... uma pasta do Noddy. 14 anos? Não, claro que a miúda adora o Noddy, até está a pensar levar uma T-shirt do Noddy para o próximo concerto dos One Direction e tudo. Para a "netinha mais pequenina", pois... que foi a bela da pasta do Noddy. Se calhar aos 8 anos ainda se gosta do Noddy, não fosse a minha moça um bocadinho nerd e gostar mesmo é de coisas do espaço, astronautas, planetas, naves espaciais e fazer Lego.
Tentei relevar a coisa e ainda que desfasada no tempo, achar que a intenção era boa. Totalmente despropositada mas boa.
E depois abri a minha, enrolada (sim, enrolada) em papel de folheto do Lidl. E pronto. Está bem.
Não me lembro bem se a deixei esquecida no hotel ou se terei mesmo intencionalmente jogado fora. Uma das duas foi.
É que não cheguei a achar muita piada ao avental de poliéster duvidoso com o print de uma porca. Sim, uma porca. Não era fofinha nem cor de rosa nem nada. Era uma foto de uma porca. Assim, tal e qual. Uma porca no meio da lama. Pronto...