Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

à nora com a sogra

Um blog sobre histórias de família em geral e mães de maridos em particular. Ou um registo terapêutico de episódios reais que mais parecem ficção.

As autoras:

Arquivo:

[2000] História de um casamento.

[Prometi um post aos 2000 likes na nossa página do Facebook, ao estilo "Histórias de um casamento".

Nunca esperei que fosse necessário cumprir de forma tão rápida, esta promessa. :) Obrigada a todos vós!]

 

Hoje trago-vos uns pormenores catitas da História de um Casamento da minha Sogra. Espera, dois. Hummm, não. São três. Três casamentos.

 

Para quem chegou agora e ainda não teve oportunidade de nos ler desde principio, a minha Sogra é daquelas pessoas que são extremamente católicas, disparando em todas as direcções sempre que se acha no alto do seu juízo, reguladora dos pecados menores ou julgadora dos pecados capitais. Daquelas que têm na ponta da língua o "Deus castiga" e o "Ai Jesus" pronto a sair em tudo o que não lhe cabe no sentido. Nada contra. Cada um vê a vida com as lentes que lhe apraz. Só não me venham com teorias que em nada se coadunam com as práticas.

 

Feito o aparte introdutório, o primeiro capítulo, na íntegra.

Uma vez perguntei-lhe se sempre tinha sido assim tão religiosa ou se era resultado de uma vida cheia de altos e baixos. Sempre foi. Muito. Não sabe o que é a vida sem ser pelas leis e mandamentos de Deus, da Igreja católica e tal e tal. Desde que se lembra. Tem vivido em sintonia com o que a Bíblia diz e acha que é pecado inspirar fundo se Deus não o permitir.

 

É curioso, isto. Principalmente se colocarmos na linha temporal o facto de no seu primeiro casamento, para além de "não ter sido abençoado" pela Igreja, o vestido não era branco e... bem, era um bocadinho largo. Daqueles que são assim... para barrigas de 6 meses, estão a ver?

Não fosse eu uma pessoa do bem, já lhe tinha perguntado se não tinha gerado em pecado e casado em heresia.

Sei que a Sogra dela não era muito boa rés. Sei que era daquelas de confronto brutal e que era mesquinha. E sei-o por um motivo muito simples: como foi a sogra dela que criou o meu Coiso, tenho a sorte de ter duas sogras que não só se acham no direito de competir pelo título como ainda concorrem entre elas. DUAS. Venha o diabo e escolha.

Naquele tempo, há mais de 40 e tal anos atrás, não devia ser nada fácil casar de barriga e seguir dali por diante. Muito menos com uma Sogra à altura, daquelas que não presenciou o casamento e que ainda lhes amargou a vida até conseguir ficar com o netinho só para ela. Mas isso serviu para a minha Sogra aprender alguma coisa ou ser alguém de boas índoles? Pois. Parece que não.

O feitiozinho não é dos melhores e o marido número 1 decidiu uma manhã que saía e não voltava. Não sou ninguém, absolutamente ninguém para atribuir causas ou motivos para o meu Sogro fugir [porque eventualmente foi o que fez], abandonar a família e deixá-la sozinha com 3 crianças muito pequenas. Mas foco o acontecimento pelo motivo que poderia ter sido ponto de aprendizagem para a senhora. Mas ela era pouco dada a aprender. Só a dar lições.

 

Os anos que viveu com um senhor, maritalmente mas como se ele fosse só hóspede, não interessa nada e o que se recusa ser verdade a igreja não vê. Claro. Mas eu não podia casar de branco, recordam-se?

 

Até que um dia chama-nos a todos lá a casa para nos comunicar que decidiu casar. Deus estava há espera que ela cumprisse a sua promessa de casar por Igreja. E casou: vestido branco, véu de 4 metros e grinalda, festa chique, cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos e essas coisas todas a que achou que lhe preenchiam as medidas. [Volto a dizer que não tenho nada contra os sonhos de cada um]

O casamento por igreja é para sempre, dizia ela e na altura fez questão que toda a gente rezasse uma missa pela eternidade do seu casamento e lá fomos nós, a mais uma missa para além da cerimónia em si.

Só me lembro da minha moça do meio, na altura com dois anos, cansada e fartinha de estar nos Jerónimos, cheia de calor naquele vestidinho de renda, a fazer pápápápá tititi em altos berros e a querer por tudo deitar-se no véu da noiva. E dos sapatos me apertarem os pés.

Fui madrinha de casamento (nunca vou perceber porquê) e tive que tolerar e engolir uma série de minhoquices que a senhora minha Sogra achou que estava ainda na idade de usufruir, como por exemplo, ajudar a colocar a liga e, depois, de a retirar para o leilão, numa noiva de 60 e tal anos, obesa e muito pouco simpática. Mas fez-se. Tudo em prol do sonho da senhora.

Ainda hoje tenho pena do marido. A forma como o tratava, a frieza, as ordens. Coitado. Tão boa pessoa. É daquelas coisas que não se entende. E giro, o tipo! Se o era com 60s imagino na flor da idade, tipo aos 18. Cabelo esbranquiçado mas com charme, tão a ver?

 

Um dia, ela queria comprar uma casa, ele não quiz. Ela meteu-lhe os patins e mandou-o para as cucuias. Divórcio. Mas continuavam a viver juntos.

- Espera. Então e blá blá blá religião, casamento eterno e tal e tal? Então e pecados e assim? LOL

 

Vai daí a um ano, cai o Carmo e a Trindade: a reforma jeitosa, as casas (a mais), as rendas recebidas, dão-lhe cabo do IRS e do dinheirão que tem a pagar de imposto. Ora, isso não agrada a ninguém. O esperto do contabilista (NOT!) decide-lhe dizer na brincadeira que ela tinha era que arranjar um marido...

... e a Sogra decide pedir o "ex-marido - actual - qualquer coisa - que dorme com ela", em casamento! E lá recomeçou tudo de novo. A festa por organizar, a cerimónia por fazer, a choradeira porque já não podia ser por Igreja, a tentativa de anulamento do segundo casamento para evitar ter um divórcio anotado da certidão, o vestido que já não era com véu mas tinha que ter chapéu e penas e...

 

Eu já não tive paciência. Fiz questão de dizer que não me incluíssem na palhaçada e que tinha mais onde ocupar o meu precioso tempo.

Não fui eu nem foram as minhas moças. O Coiso decidiu ir, não sei bem porquê, mas parece-me que tinha qualquer coisa a ver com alguém acompanhar a senhora. E com haver rissóis e croquetes na festa.

Vi a saber depois por ele que o pobre do noivo (segunda vez) foi obrigado a pintar o cabelo de preto, a colocar uma placa dentária nova e a usar uma cinta (!!!) para a barriga, só para que a senhora não tivesse vergonha dele.

Era comigo, era...

 

Desde esta última vez, ainda estão casados, vai para uns 5 ou 6 anos. Mas parece-me que a coisa não está lá muito vincada. Afinal de contas, ele agora já recebe reforma e isso atrapalha-lhe a contabilidade. Já ouvi zum-zuns de que se ele não concordar ali com umas novas vendas e aquisições, que lhe põe as malas à porta.

 

A melhor de todas foi no domingo passado eu ouvir a senhora dizer ao meu Coiso: "Filho, baptiza as tuas meninas, mesmo que às escondidas da tua mulher! Olha que é pecado não estarem baptizadas!"

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

As autoras:

Arquivo: