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à nora com a sogra

Um blog sobre histórias de família em geral e mães de maridos em particular. Ou um registo terapêutico de episódios reais que mais parecem ficção.

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Do casamento.

[Isto de se falar da Sogra, tem muito que se lhe diga.

Não, a sério. Tem MESMO muito que se lhe diga. É que até se gosta bastante da cara metade e, na realidade, não queremos meter os pés pelas mãos e - num acto terapêutico -, dizer as coisas de forma mais despassarada e magoar o filho da Sogra.

Mas isso era se o filho da Sogra não tivesse dado meia dúzia de gargalhadas com o "à nora com a sogra" ou não fosse ele um tipo porreiro, com a dose certa de realidade. Felizmente, não precisa que se lhe recomendem óculos nem que lhe sejam necessários destapar os olhos.]

 

Parece-me a mim, que também sou Mãe [um dia serei SOGRA!?!] que quando um filho se casa seja bom anúncio. E se considerarmos que o filho já não vive com a Mãe, não come do seu repasto ou sequer comunga dos seus benefícios [vulgo viver às custas da mãe], quer-me parecer que o casamento se propõe como um passo normal, evolutivo, para qualquer Mãe. Arrisco-me a dizer "um evento feliz".

 

A julgar pelas lágrimas e soluços desconsolados da minha Sogra, descobri que estava redondamente enganada e parece-me que a única felicidade que a senhora sentiu, no momento em que o filho lhe comunicou o enlace, foi mesmo o de saber que não teria que pagar nem um escudo. [Sim, ainda eram os escudos] 

 

Acredito piamente que, no dicionário, existiu em tempos idos, a especificação de que Sogra é uma junção sábia de Só + Agoira que, com o decorrer da evolução linguística, acabou por mergulhar num Sogra qual alentejano a arrastar a junção das sílabas, deixando imperceptível o prenúncio do título. Não há acordo ortográfico que me valha a teoria, mas isso não importa nada. O que faz sentido, faz sentido e pronto.

 

Naquele tempo ainda era uma miúda bem comportada e fiquei calada a assistir a uma mulher adulta a chorar baba e ranho porque o filho ía casar. Ía desperdiçar a sua vida com ESTA mulher, que ele conhecia tão bem há mais de 5 anos mas que ela nem por isso. [Oh sim, o nosso tempo de namoro foi privado de muitas aparições em comum, a bem da moral quotidiana].

Sabem, aquelas lições de moral que vêm do cimo do alto de quem não as pratica? Foi uma dose para elefante. Porque afinal, o filho não estava preparado para o elo sagrado do casamento e era importante que percebesse que um casamento é para toda a vida. [Embora naquele tempo o marido número um já era ex, o marido número dois ainda não era bem marido]

 

Se naquele dia ela achava que o filho estava a enterrar-se, como tão bem proferiu, com todas as letrinhas, no dia do nosso casamento melhor o fez.

 

A minha sogra era aquela senhora que ficou para sempre nas fotos [para não falar no vídeo e no próprio evento], de vestido comprido PRETO, chapéu PRETO e VÉU PRETO. Que chorou baba e ranho, de lencinho preto a limpar as lágrimas e que, apoiada pela mão da prima, saíu da Igreja a soluçar.

Não aquele soluço de felicidade. Aquele que se ouve no baixar do caixão de um ente querido.

 

Nunca me apeteceu rever o vídeo do copo de água. É que algures a meio, a querida Sogra resolveu discursar. Estava engasgada com um "hoje é o dia mais triste da minha vida" e isso não a deixava lambuzar-se com as iguarias do buffet.

 

Mas pelo menos tenho sempre o seu presente de casamento para me recordar das alegrias e carinhos da Sogra. Um avental com o desenho de uma vaca e as belas das pegas de cozinha a condizer. Não se lhe pode retirar o mérito no sentido prático da coisa.

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