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à nora com a sogra

Um blog sobre histórias de família em geral e mães de maridos em particular. Ou um registo terapêutico de episódios reais que mais parecem ficção.

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AQUELE telefonema

Pronto. Tinha que ser.

Se eu estava à espera disto? No fundinho da minha consciência, sim. Claro. Se estava preparada? Não.

 

Viver noutro país - ou se quiserem, ser emigrante, tem muito que se lhe diga. Principalmente no que toca à parte em que muita gente de repente acha imensa piada ao estarmos no local xpto e olham para nós como aqueles familiares favoritos ou mesmo os melhores amigos de sempre (dantes éramos apenas "pessoas") ou se quiserem melhor termo: "temos onde dormir e comer de graça se formos ao país xpto". Isso é que era bom. Com a distância vem outro atributo: o discernimento.

 

Vai daí que toca o telefone. Era a cunhada. Se fosse a Sogra, sei que "ninguém" tinha ouvido o telefone. Mas a cunhada sabe muito e sabe que o irmão atende sempre.

 

Ela - A Mãe agora chora muito e quer estar contigo. Tem muitas saudades, não te vê há mais de um ano.

O Coiso - Mas normalmente passava mais de um ano sem me ver e nunca lhe afligiu. Deve ser algum achaque novo.

Ela - Não sejas assim. A Mãe está com muitas saudades e precisa estar contigo.

O Coiso - Sim. Vou estar aí em Agosto, poderá ver-me nessa altura.

Ela - É esse o problema. Vai passar o mês de Agosto em França, por isso não pode estar contigo.

O Coiso - Olha, problema dela. Já lhe tinha dito em Janeiro que íamos em Agosto. Marcou viagem porque quis. Fica para a próxima.

Ela - Por isso é que te estou a ligar. Comprámos bilhete para ir passar férias contigo, em Julho. Tens é que a ir buscar ao aeroporto. Fica 12 dias em tua casa, ok?

O Coiso - Compraste bilhete? Sem me perguntares nada? Anula o bilhete. Já.

Ela - Não posso. Já paguei e não é reembolsável e custou um dinheirão. Faz lá o jeitinho. É nossa mãe. Tem saudades tuas. Qualquer dia morre e ficas repeso.

O Coiso - Anula o bilhete, muda o destino faz o que entenderes. Aqui para casa, não vem. Ninguém me perguntou nada.

Ela - Por favor... não sejas assim.

O Coiso - Tudo bem. Queres que ela venha para aqui? Que venha. Eu marco-te um hotel baratinho. Mas que não pense que vem abancar na minha casa.

Ela - Vou falar com ela. Depois digo-te alguma coisa mas olha que não faz tensões de gastar dinheiro... diz que teve o filho e que agora é hora de ser o filho a tratar dela.

 

O meu Coiso desligou. Não sem antes dar-lhe o belo do sermão e óbvio que não conto aqui as calinadas no calão e outras frases menos politicamente correctas.

 

Na manhã seguinte (ontem), ligou-me a mim. A cunhada. Para que intercedesse no assunto.

Desta vez fui fiel a mim própria e peremptória na decisão.

Eu - Temos muito gosto em recebê-la para jantar enquanto cá estiver de férias. Acho que o Coiso até pensou num hotelzinho que não é muito longe. E vai enviar-te qual é o comboio que deve de apanhar do aeroporto até aqui. Ainda são quase duas horas. Agora, nem sonhes que vem para aqui ficar. Temos a nossa vida, trabalho, escola e a casa está desenhada para nós. Ponto.

Ela - ...? Então e como é que lhe vou dizer isso? Já viste bem, não é muito normal o filho não a querer em casa dele!

Eu - Olha, o que não é normal é terem feito esse esquema todo e ninguém nos ter querido saber ou achar opinião. O que não é normal é a senhora minha sogra despachar o filho para a casa da Avó durante a vida inteira dele, visitá-lo quando o Rei fazia anos, nunca querer saber das netas ou mesmo de nós e agora de repente, achar que pode vir de férias às nossas custas e estar na maior. Ela que faça o que sempre fez quando vivíamos aí: Ignorem-nos. Esqueçam-nos.

 

Parece-me que não vai ser fácil. E que no final, vou acabar por ter que alojar a senhora. É que o meu coração é demasiado mole. Demasiado. E sei que o dele também não será muito menos.

 

Lembram-se do Fernando Pessa? "E esta, hein?"

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