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à nora com a sogra

Um blog sobre histórias de família em geral e mães de maridos em particular. Ou um registo terapêutico de episódios reais que mais parecem ficção.

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Argumentos e desculpas.

Não são uma nem duas pessoas que, frequentemente, nos dizem que têm receio de gostar da nossa página e das nossas publicações. Outras tantas que gostam mas que não comentam e nos escrevem por mensagem para que as sogras e cunhadas (são sempre as sogras e as cunhadas, who else?!) não saibam que por ali andam. Ontem chegámos mesmo ao ridículo de terem ido pedir satisfações a uma das nossas leitoras, de porque raio é que gostava de nós, como se fossemos uma seita anti-sogras ou coisa do género. É preciso atentar ao facto de que raramente escrevemos sobre as sogras dos outros, o grosso da nossa escrita é sobre as nossas próprias sogras, essas pessoas tão especiais. Vai daí, a menos que as ditas sogras e cunhadas tenham telhados de vidro, não é preciso sentirem-se intimidadas pelas vossas/os familiares terem feito like no nosso canto, a sério, nós somos do bem.

 

De qualquer forma, como a vida não é tão simples como isso e como quando uma pessoa é confrontada às vezes tem tendência para não dizer o que efectivamente deveria dizer, resolvi compilar aqui uma série de argumentos/desculpas que podem dar no caso de vos perguntarem porque é que gostam da nossa página. Ora cá vai:

 

1) A desculpa esfarrapada delico-doce.

"Eu gosto desta página porque me ajuda a relativizar e a pôr a relação com a minha própria sogra em perspectiva, me faz ver que afinal das contas ela é mesmo mesmo mesmo boazinha e fofinha, nada que se compare com as bruxas que descrevem por lá."

 

2) A desculpa intelectual.
"Eu sigo a página não pelo assunto, mas pela densidade e eloquência da escrita. Na minha opinião, a Coisa e a Criatura deviam receber um Pulitzer em breve."

 

3) A desculpa patriota.
"Então, temos de apoiar os talentos nacionais, dar valor ao que de bom se faz no país, que mal é que isso tem?"

 

4) A desculpa da amiga.
"Foi a minha amiga Joaquina Marlene que me recomendou, sabes, ela tem uma sogra horrível, mesmo mesmo má e assim. Como lemos as duas o blog da Coisa e da Criatura, acabamos por comentar os assuntos que elas falam e ela (coitada, pá) aproveita para desabafar. É que a sogra dela é mesmo mesmo má, sabias?."

 

5) A outra desculpa da amiga.
"Eu conheço a Coisa e/ou a Criatura. Infelizmente não te posso dizer de onde, elas são como os super-heróis, têm identidades secretas."

 

6) A desculpa simpatética.
"Mas tu já leste o que elas escrevem? Opá, coitadas. Aquelas desgraçadas já passaram um inferno com as sogras malucas que lhes calharam na rifa, o mínimo que podemos fazer por elas é ir lá pôr like na página. Vá pões lá tu like também, vá."

 

7) A desculpa semi-sincera.
"Então, porque a página é hilariante! Estou para aqui farta de me rir! Ah Ah Ah!"

 

8) A desculpa sincera, versão politicamente-correcta.
"Eu gosto da página da Coisa e da Criatura porque tenho conta no Facebook e felizmente vivo num país livre onde, desde que a minha liberdade não interfira com a dos outros, posso fazer o que bem entender."

 

9) A desculpa sincera.
"Olha pá, gosto porque me identifico com elas. É bom saber que não sou a única com uma sogra maluca... Incomoda-te? Podemos sempre deixar de ser amigas no Facebook."

 

10) A desculpa assim-mais-para-o-bruto.
"Porque é que eu gosto da página? Say whati? E se te preocupasses com a tua vida? Não tens mais nada para fazer?!"

 


Agora num tom mais sério, se forem como eu, que gosto pouco de confusão e assim, podem sempre usar as definições de privacidade do Facebook, escolher o que partilhar com todos ou só com alguns, usar os grupos para gerir quem vê o quê e principalmente, pôr a sogra e a cunhada no grupo restrito, onde só conseguem ver o conteúdo que se partilha como público, ponto. Nos casos extremos há sempre a hipótese de remover a amizade e de seguida bloquear a alminha em questão, aí sim, talvez se consiga privacidade a sério, porque é como se a nossa conta no Facebook deixasse de existir para essa pessoa em concreto.

Outras realidades

Diz o provérbio que "Quem conta um conto, acrescenta um ponto".

Mas hoje vamos lá fugir à regra, ser a excepção e contar as coisas como elas são.

No meio de tantas sogrices da minha Sogra, na verdade, tenho muitas mais realidades em que me vi envolvida com outras sogras de pessoas muito próximas de mim. Esta que vos trago hoje, é uma daquelas que - parecendo filme, não o foi. Porque falo nesta sogra que não a minha? Porque inacreditavelmente, quando procurei a minha sogra num pedido de ajuda para esta situação, obtive uma daquelas respostas fenomenais, características de alguém com um parafuso a menos. Ora, digam-me lá voces de vossa justiça.

 

Uma das minhas pessoas mais próximas na família estava casada há pouco mais de dois anos com alguém que todos nós associavamos a um marido porreiro, educado, trabalhador, etc, etc. Mas eu olhava para ela e, conhecendo-a do berço, aquele olhar não era de uma mulher feliz, nem pouco mais ou menos, de uma mulher que se sentisse realizada no seu casamento. Um dia, porque me achei no direito e puxando dos galões da nossa irmandade, fui directa ao assunto. E aquela mulher determinada que eu vi crescer desfez-se em mil e um bocadinho, em lágrimas e choro, soluços e mãos trémulas.

Encurtando a história e porque ela se arrastou (ainda) por alguns anos, não obstante o marido não ser nada do que as aparências mostravam, a sogra, não facilitou em nada. Para quem tem achado que eu ou a Criatura temos sogras do outro mundo ainda não ouviram falar nesta sogra.

 

Assim num resumo muito pequeno, o marido bebia. E bebia muito. Rapaz novo, casados recentemente, ela um mulherão lindo, trabalhadora, amiga e excelente mãe, não lhe chegava. A companhia da bebida, todos os dias, a qualquer hora da noite - primeiro - e mais tarde a qualquer hora do dia, passou a ser a sina dela, numa casa inquieta, num serão de expectativas e angústias por tudo e por nada: ora que chegava a casa podre de bêbado e caía que nem pedra no sofá e tudo muito bem, ora que chegava e fazia cenas de ciúme, de birras, de gritos, de implicância, acordava o filho, jogava tudo ao chão, enfim. Cenas típicas que todos conhecemos, se não por experiência, por vermos noutras experiências.

E o dia a dia foi-se deteriorando. Cada vez mais. Ela não dormia, não comia, não vivia. Sobrevivia. E pelo meio criava um filho, dava conta de uma casa, trabalhava o dia todo e amparava os choros de um filho que tinha medo do pai. Escondia. O mais que podia. Disfarçava sorrisos e mascarava as bebedeiras do marido em eventos de família. Nunca ninguém notou - ou fez que notou.

Um dia achou que não podia esconder mais. Ligou para a sogra e pediu ajuda. Como mãe, que falasse com o filho que lhe tentasse chegar ao coração, por ela, estava disposta a recomeçar o casamento com a promessa de que tudo ainda podia ser bom. E é aqui que começa o surreal.

 

A sogra achou-lhe maléfica. Que era mentira. Das mentiras mais cabeludas que alguma vez ouviu. Que ela não sabia o que dizia. O seu querido filho, tão trabalhador, tão honesto, tão bom pai. Imaginam o choque dela, de certo.

Deixou de lhe mascarar as bebedeiras. Deixou de dar desculpas e de cada vez que lhe ligavam aos domingos a saber o porquê do atraso deles para o almoço, deixou de inventar motivos e de ser franca "porque o seu filho chegou às dez da manhã podre de bêbado e agora não o consigo acordar". Mas era mentira, estão a ver? Ela não queria era ir e inventava razões. Pois. E se lhe respondesse "venha cá a casa ver por si", desligava-lhe o telefone.

 

Um dia recebeu uma notificação para ir se apresentar na Polícia. Mas não porque das n vezes que o marido conduziu alcoolizado tivesse corrido mal. Mas porque a sogra apresentou queixa de difamação. Reuniu testemunhas que nunca viram nada, amigas da onça (a sogra, portanto) e foi ao pormenor de afirmar que a nora o envenenava. A Polícia chamou-a para se defender. Por ser em terra pequena, até os agentes já conheciam o rapaz e sabiam perfeitamente o que ali se passava mas os trâmites legais são para se cumprir e a rapariga foi responder ao inquérito.

 

Enquanto a sogra lhe fazia a vida negra, eu resolvi pedir ajuda à minha sogra. Amigas de longa data (as sogras), pedi-lhe que contasse o que se tinha passado no aniversário do meu Coiso, o que se tinha passado na sua casa, o que ela já tinha assistido e tentasse conversar com a senhora, para ajudar a nora e o neto a ultrapassar aquela situação. Fui corrida.

Já estava devidamente envenenada e afinal de contas, a culpa era toda da nora. Ela é que não era boa esposa nem boa mãe e não lhe dava o que ele queria (na cama, entenda-se). E muita sorte tinha ela, ser só bebida! E esperem lá, ela já tinha inclusive dito na polícia, como testemunha da outra sogra que a rapariga nem lhe passava já a roupa a ferro e que volta e meia roubava-lhe as chaves do carro ou não dava autorização que o pai fosse buscar o menino ao infantário.

Disse-lhe que era porque estava bêbado. Resposta dela? Mentira! Ela envenenava-o!

Nesse dia tive a certeza que existe algures no planeta (quiçá no universo), um Clube de Sogras Víboras.

 

Sem acrescentar um ponto mas reduzindo a narrativa: um dia ela fartou-se. Ligou-me, ligou ao irmão e em menos de duas horas tirou as suas coisas de casa: as memórias boas, as más, alguns brinquedos, as roupas do menino e dela e pouco mais. Mas trouxe com ela a dignidade e a certeza de que merecia muito melhor do que aquilo. Despojada da sua casa, de tudo o que construíu, preenchida de muitas incertezas mas com uma certeza muito vincada: paz.

Voltou para casa dos pais, aos 32 anos e um filho entretanto já com 4. Num quarto improvisado, numa cama pequena onde todo o seu mundo coube: ela, o filho e um futuro muito mais tranquilo. E era o que bastava.

 

As sogras? Ah, essas, tadinhas... encontraram-se para tomar chá e accionar a má língua mas não tiveram muita sorte. Um telefonema da Polícia interrompeu-lhes o fel e a senhora lá teve que ir tirar o filho da cadeia, onde estava a "moer" a bebedeira, não sem antes partir meio bar. 

A culpa continuou a ser da rapariga.

Mas a sogra deve de ter uma vida muito mais agitada hoje em dia. Se considerarmos que tem um filho alcóolico a viver com ela, que lhe tira o sono e a tranquilidade de um serão de novelas, acredito que deve ter uma vida muito agitada.

Mas o menino não tem qualquer problema. Está só a afogar as mágoas de um divórcio. Há mais de 3 anos. 

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